domingo, 13 de maio de 2018

Orlando Caputo: lição de vida

Eu, com Orlando Caputo, na porta da UFSC

Estávamos na mesa do restaurante, durante as Jornadas Bolivarianas. E, por sorte a compartilhávamos com Orlando Caputo, um dos criadores da Teoria Marxista da Dependência. Para lá dos seus 70 anos, ele comia devagar, olhado ao redor com olhos curiosos. Conversa vai, conversa vem, o compa argentino, Facundo Cardella,  comenta o quanto deve ter sido difícil para ele amargar um exílio de tantos anos longe do Chile depois do golpe militar. 

Caputo, que viveu a utopia da Unidade Popular no Chile, a que levou Allende a presidência, foi viver no México depois do golpe dado por Pinochet, que resultou no assassinato de Allende e no de milhares de outros chilenos. 

Caputo demorou a responder, mastigando a comida lentamente, os olhos meio que perdidos em lembranças. Então, passados alguns minutos, quando até já tínhamos pulado para outro assunto ele falou, como se fora um oráculo: “Não foi fácil, mas tratei de fazer que fosse feliz”. A frase, lapidar, e o olhar sereno nos tocaram profundamente. E ficamos ali, quietos. Ele continuou. “Tinha dois filhos pequenos na época e o que pude fazer foi dizer a eles: estudem, viajem, conheçam e respeitem a cultura local. Foi o que eles fizeram, o que nós fizemos. E foi bom. Foi feliz”.

Eia aí a beleza de saber viver. Ser de onde se está, e buscar viver feliz, apesar de tanta dor. 
O que nos restou foi abraçar bem forte aquele homem gigante, que nos dias que passou aqui, absorveu tudo de maneira muito intensa. Seus olhos, vivaces, estavam sempre brilhando, como se tivessem presenciando maravilhas. 

Caputo é estelar. 



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